terça-feira, 18 de junho de 2013

Xiii.. ele perdeu o apetite!! E agora?



Receber um diagnóstico de uma doença grave, por si só, já gera medo, angústia, stress, raiva, insegurança, tensão, e tantas outras reações, algumas difíceis de serem explicadas com palavras. Também os familiares, ao verem que um ser amado adoeceu, reagem à sua maneira, com raiva, angústia, medos, negação, enfim, apresentam, igualmente, sintomas, sejam físicos, sejam emocionais.
A angústia, a ansiedade que acompanham uma doença como, por exemplo, o câncer, começa bem antes do diagnóstico... Sintomas, exames, testes, muitas vezes, o processo para conseguir diagnosticar “qual é o problema”, por si só, já gera stress. Mas a resposta chega. E, por mais dura que seja a realidade da doença, com o diagnóstico, chega o tratamento, a “saída”, a possível solução. E o renascer da esperança.
Como se não bastasse, porém,  durante o tratamento, o paciente deverá enfrentar, além das mudanças ditas “normais” na rotina, na sua vida (e na dos familiares mais próximos) em geral, os efeitos do desenvolver da doença e do próprio tratamento.
Cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia. Efeitos colaterais. Efeitos estes que são muito individuais, e, embora exista um “elenco” de efeitos esperados, estes podem varias de paciente para paciente.  Muitos destes efeitos, no entanto, podem ser “encarados de frente”, enfrentados, minimizados. Mas mais uma vez repito: vai depender de cada indivíduo, de cada organismo, de uma série de fatores combinados, lembrando que, a doença, geralmente, possui aspectos biopsicossociais, espirituais.
O paciente e seus familiares tentam, conforme lhes foi recomendado, ou pelo médico, ou pela psicóloga, ou até por aquele amigo mais chegado, viver a vida “ o mais normal possível, sem mudar tanto a rotina do dia a dia. E chega a hora das refeições.
Hora de comer, e o paciente não tem fome! Ele simplesmente não consegue comer! E agora, o que fazer?
O ato de alimentar-se, na nossa sociedade, é associado à questões ligadas ao prazer e à satisfação no mais amplo dos sentidos. Basta notar como, até hoje, mães que não conseguem, por um motivo ou outro, amamentar seus filhos no seio, sentem-se, muitas vezes, incompletas, culpadas, não boas “o suficiente”.  (Esta teoria, na verdade, já caiu por terra há muito tempo, mas infelizmente muitas a introjetaram de tal forma, que seguem sofrendo no seu interior)
A comida e, mais ainda, o alimentar-se, tem a ver não apenas com satisfazer de uma necessidade biológica, mas também (e especialmente com) uma função afetiva e social.
Afetiva, como a mãe que alimenta o bebe, como uma troca de carinhos, de cuidados...
Social, bem, basta considerarmos o fato de, muitas vezes, escolhermos bares ou restaurantes para os nossos encontros, sejam estes encontros de trabalho, com amigos, ou quando queremos surpreender alguém. (Quem recusaria um convite para jantar em um bom restaurante?)
Voltando então ao nosso paciente. Lhe falta o apetite, ele não tem a mínima vontade de se alimentar. E o familiar? O familiar, ansioso e angustiado com aquela situação, sentindo-se “com as mãos atadas”, por não poder fazer “algo mais” para o paciente, tende a, como uma mãe, repleta de boas intenções, mas nem sempre completamente ciente dos seus atos, insistir para que ele se alimente. E, o que acontece?
O apetite do paciente e a sua vontade de comer não é que voltam miraculosamente!
Insistir para que o paciente se alimente, talvez não seja a melhor solução. Isto pode acabar por aumentar ainda mais a angústia e o stress, seja dele, seja do familiar que, não vendo uma “mudança concreta” do ato de se alimentar, sente-se ainda mais impotente diante da situação.
 O ato de “insistir”, pode gerar ainda mais angústia, tanto no paciente que, sob pressão, pode inclusive vir a ter reações de raiva, descontrole, choro ou até  reatância, ou seja, se antes comia um pouco, a partir daí, simplesmente se negar a se alimentar.  Outras reações à pressão sofrida podem ser a caráter psicológico, refletidas no físico, como aumento de náuseas, mal-estar, vômitos, sem falar em insônia, nervosismo e agitação.
E o familiar? Sim, não podemos esquecer do familiar! Tudo isto pode aumentar ainda mais a sua ansiedade, a sua insegurança e a sua sensação de “inutilidade”. “Não sei o que fazer para ajudar!”  Mas então, como administrar esta situação?
Antes de mais nada, do ponto de vista nutricional, é importante uma boa avaliação com uma nutricionista oncológica, afim de receber orientações adequadas sobre como adequar a alimentação do paciente e, se necessário, fazer uso de suplementos alimentares específicos.
Do ponto de vista emocional, precisa, primeiramente, se dar conta de que as funções dadas ao “alimentar-se” foram simbolicamente representadas pela comida, mas podem muito bem ser substituídas, ou administradas de um  modo diverso. O “afeto”, por exemplo, não está no ato de “limpar o prato”, mas na troca de carinho, no contato olho no olho, na simples presença. Mais do que ser pressionado para comer, talvez o que possa aumentar, não digo tanto o apetite, mas a “vontade” de se alimentar seja poder estimular não apenas a “fome”, mas todos os sentidos! Uma mesa bem arrumada, elegante, com enfeites, pequenos detalhes... Um prato bem colorido, apetitoso, daqueles que a gente “come com os olhos”... Se possível, decorado, e feito com os ingredientes mais importantes: carinho e amor. Quem sabe uma música suave de fundo. Todos à mesa juntos, televisão DESLIGADA!! Buscar formas de estimular a visão, o olfato, a audição, o paladar... Que tal sugerir ao paciente simplesmente tentar saborear as coisas? E, com ele, tentar achar novos temperos, novas combinações, novos sabores? (Muitas vezes a medicação altera o gosto dos alimentos e, vamos combinar, carne com gosto de metal não deve ser lá essas coisas!)
O momento da refeição pode (e deve) ser também um momento de trocas, de afeto, de socialização. Eu arriscaria a dizer que a “comida” ali não é a causa, mas a consequência! Vimos como “causa” como se, para estarmos juntos, precisássemos de uma “desculpa”. Na verdade, porém, talvez o mais importante destes momentos sejam exatamente as trocas. De afeto, de ideias, de conhecimentos, enfim...
Mesmo que o paciente não tenha fome, é importante que ele esteja presente, e participe destes momentos.  Sentar à mesa, todos juntos. Beliscar uma ou outra coisinha. Ousar, arriscar. Se não der, tudo bem. Nada de insistir demais, pois, como visto anteriormente, isto pode acabar piorando a situação. Conversar. Sobre a vida, sobre as coisas, sobre o que vai bem, o que melhorou, enfim, esquecer um pouco dos problemas, da doença, do sofrimento, da dor... Ajudar o paciente a sentir-se, ainda, não um paciente, uma pessoa doente, mas um ser humano. Uma pessoa simplesmente. Com medos, inseguranças, mas também com sonhos, esperanças, e com uma VIDA que vai além, muito além do seu diagnóstico!
E os familiares? Estes poderão se tranquilizar de que fizeram, de que estao fazendo a sua parte. Sem cobranças, sem angústias “extras”, sem stress... reconhecendo os limites do paciente, mas também (e especialmente)  as próprias limitações.

Psicóloga
Especialista em Psico-Oncologia
Especialista em Cuidados Paliativos
Marian de Souza

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Envolvimento da nutrição na iniciação e progressão do câncer

A neoplasia maligna, popularmente chamada de Câncer, é a segunda maior causa de mortalidade no mundo, perdendo apenas para as mortes ocasionadas pelas doenças cardiovasculares. De acordo com a Organização Mundial da Saúde , foram registrados 1,4 milhões de mortes no mundo no ano de 2010. A relacão entre o câncer e o estado nutricional é muito vasta. A nutrição está diretamente envolvida na prevenção, iniciação, progressão e tratamento do câncer.
 O câncer é uma doença com muitos fatores etiológicos envolvidos. Esta doença é caracterizada pelo acúmulo de mutações no DNA da célula, alterando sua fisiologia e permitindo a sua auto multiplicação e perpetuação, dominando, desregulando e matando o organismo no qual ela se desenvolve. 
A nutrição é um dos fatores desencadeantes das mutações que ocorrem no DNA. Os processos utilizados para a longevidade de alimentos perecíveis, como os inseticidas e herbicidas, os processos de armazenamento, processamento e estocagem de alimentos industrializados fazem com que elementos químicos utilizados nestes processos sofram oxiredução nas nossas células, possibili
tando a formação de moléculas eletricamente instáveis, os radicais livres.
Radicais livres são moléculas químicas que num dado momento apresentam um elétron livre, tornando-se altamente reativas, neste estado estas moléculas podem se combinar com bases nitrogenadas do DNA favorecendo as mutações. Não que os radicais livres sejam a única causa das mutações que ocorrem no DNA, mas eles são sim, moléculas presentes na nossa alimentação e mutagênicas.
Nem sempre podemos nos livrar destes elementos químicos que vêm acoplados aos nossos alimentos, mas evita-los é uma forma de prevenção das mutações que levam ao câncer. Uma alimentação sem a presença de elementos químicos reativos favorece a fisiologia e a longevidade das células, evitando a iniciação das células tumorais.

Por: Maria Regina Orofino Kreuger
Professora da UNIVALI

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Destaques do Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO), o maior e mais importante congresso de oncologia do mundo. Acontece de 31 de maio a 4 de junho em Chicago

Melanoma
O Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO), realizado de 31 de maio a 4 de junho em Chicago (EUA), com a presença de mais de 40 mil médicos, apresentou, no final de semana, três novos tratamentos para melanoma.
Em um estudo com 245 pacientes  com a doença, os pesquisadores confirmaram que adicionar um estimulante imunológico, chamado GM-CSF (sigla em inglês para estimulador de colônica macrófago-granulócito), ao tratamento com a droga Ipilumimab - substância do Yervoy, droga aprovada recentemente no Brasil - aumenta a efetividade do tratamento. Outro remédio, chamado Nivolumab, mostrou resultados muito encorajadores quando comparados aos dados históricos do melanoma previamente já tratados. Pesquisadores também descreveram que o Selumetinibe, comparado à quimioterapia, aumenta a sobrevida de pacientes com melanoma ocular.

Dr. Stephen Stefani, oncologista do Instituto do Câncer  Mãe de Deus e membro da American Society of Clinical Oncology, assinala que estes avanços são muito promissores no sentido de que, após quase uma década em novidades importantes, alternativas sofisticadas começaram a mostrar resultados. Para uso rotineiro na prática clínica assistencial ainda são necessárias algumas etapas de discussão científica mas, cada vez mais rapidamente, devem fazer parte do arsenal terapêutico desta doença, diz o médico.

O melanoma é o tipo mais agressivo de câncer de pele, devido à sua alta possibilidade de metástase e taxa de mortalidade elevada. No Brasil, o melanoma corresponde a 4% de todos os tumores malignos de pele, porém, é responsável por 75% dos óbitos decorrentes da doença. E, nos últimos 20 anos, o número de casos triplicou em mulheres e duplicou em homens. De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, a taxa de mortalidade por cem mil habitantes nos últimos 30 anos apresentou um aumento de 120% nos homens e 48% nas mulheres. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente ocorram cerca de 130 mil casos novos desse tipo de câncer no mundo, com maior incidência entre a população de pele branca.

Apesar dos resultados serem preliminares, a comunidade científica parece  ter descoberto como “alertar e estimular” o sistema imunológico a combater esta doença que tanto preocupa a sociedade.


Câncer do Pulmão

Novas moléculas de uso oral podem reduzir a progressão de alguns tipos de câncer de pulmão mais do que quimioterapia tradicional

Estudo com 347 pacientes com câncer de pulmão avançado - especificamente um grupo com uma alteração no gene ALK - que receberam o medicamento crizotinibe tiveram 65% de redução do tumor, mais que o triplo do que o grupo que recebeu quimioterapia. O tempo de resposta também foi maior, quase 8 meses comparado com 3 meses. 


Comentário Dr. Stephen: O estudo aponta para algumas tendências da oncologia moderna, com uso de drogas orais especificamente reservadas para grupos com determinadas características genéticas, personalizando a tomada de decisão médica


Câncer de Rim e de Fígado

Droga usada em câncer de rim e fígado tem atividade em câncer de tireóide

Após 40 anos sem drogas aprovadas para tratamento de câncer de tireóide, o sorafenibe (Nexavar, droga usada em câncer de rim e de fígado) mostrou atividade nesta doença. Apesar de taxa de resposta pequena, 12% dos pacientes que usaram o remédio tiveram redução do câncer, os resultados animaram pesquisadores que observaram somente 1% de resposta em pacientes que não usaram o remédio.

Comentário Dr. Stephen: Drogas de uso oral tem sido cada vez mais presentes e, já no próximo ano, farão parte do arsenal dos pacientes com plano de saúde. O custo elevado deve limitar o acesso aos remédios para pacientes que dependem do SUS. Mais importante do que os resultados objetivos, é o conceito de haver uma direção que pode trazer resultados em uma doença muito carente de opções.


Câncer de Ovário

Nova droga em câncer de ovário é debatida no Congresso Americano de Oncologia, em Chicago

O Pazopanibe (Votriente, comprimido aprovado no Brasil para tratamento do câncer de rim) foi avaliado em 940 pacientes com câncer de ovário. A progressão da doença em pacientes que usaram o medicamento foi, em média, após quase 18 meses, comparado com 12,3 meses de quem usou placebo. 


Comentário Dr. Stephen: Apesar de ser medicamento oral, cabe mencionar que se trata de quimioterapia da mesma forma. Neste sentido, a recomendação de utilização - se houver aprovação dos órgãos regulatórios no futuro - deve ser rigorosamente debatida com paciente e supervisionada por especialista. Neste estudo, 1 em cada  4 pacientes experimentaram efeitos colaterais.


Câncer de Colo de Útero

Uso de Vinagre no exame ginecológico pode ajudar a reduzir mortes pode câncer de colo de útero. Estudo realizado por 15 anos na India, apresentado em destaque na ASCO, utilizando um esfegaço com vinagre e uma lâmpada mostrou ser uma estratégia de baixo custo para detecção precoce e redução de mortes por câncer de colo de útero. Dr. Ted Trible, do National Cancer Instituto (NCI) descreveu resultados, com entusiasmo, uma vez que as estimativas apontam para potencial de mais de 70 mil vidas salvas a cada ano com esta estratégia. O exame tradicional de triagem é o raspado de colo de útero - o Papanicolau - pode ser restrito em países de baixa renda como India.


Comentário Dr. Stephen: Estratégias de baixo custo e impacto tão importante merecem atenção, especialmente em países com baixa renda e uma prevalência alta de uma doença completamente curável quando identificada precocemente.


Câncer de mama

Tamoxifeno por tempo prolongado reduz risco de câncer de mama

O medicamento amplamente usado na prevenção de recaída para pacientes que tiveram câncer de mama, especificamente aquelas com tumores relacionados a hormonios, é recomendado de maneira geral por 5 anos após cirurgia do câncer. Estudo de grande porte apresentado em Chicago sugere que o uso por 10 anos pode beneficiar ainda mais as pacientes. O risco de recaída foi 30% menor. A presidente da American Society of Clinica Oncology (ASCO), Dra. Sandra Swain chamou a atenção para importância deste estudo durante o evento: "os dados são importantíssimos e devem ser discutidos com atenção".


Comentário Dr. Stephen:: Estes dados vem corroborar outro estudo que aponta na mesma direção. Análise cuidadosa do ganho absoluto é fundamental para equacionar de forma adequada a relação de risco e benefício

Moglia Comunicação Empresarial

Dr. Stephen Stefani
Oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus, Porto Alegre
Membro da American Society of Clinical Oncology