quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Uma grande lição

Queridos companheiros da causa, venho através do blog divulgar um relato de uma amiga para o seu marido, que teve câncer e hoje felizmente encontra-se muito bem! Espero que todas as pessoas que diante de uma situação dramática como o diagnóstico de câncer, possam VIVER UMA GRANDE LIÇÃO!



Quando Horácio escreveu em seu poema a frase “Carpe diem” (na tradução popular: aproveite o dia), ele certamente imaginou as milhares de pessoas que séculos depois teriam que conviver com o pós câncer.

Sim, porque não há alguém que valorize mais o brocardo do que aquele que um dia enfrentou a doença.

É como se fôssemos de alguma maneira chacoalhados pelo mundo real dizendo: “Espera lá, faça plan...os pra hoje, o amanhã é comigo!”

Todo mundo faz hemogramas, papanicolau, testes de esforço... Então por que motivos tanta ansiedade?

Ouso dizer que o medo de o câncer voltar é pior que o próprio câncer. O medo de contar novamente a notícia a quem amamos, o medo de sentir dor, enjoo, constipação, de ver os cabelos caírem mesmo que as pessoas digam sem graça que “cabelo é de menos”, o medo de uma toxicidade, o medo de não dar certo de novo, o medo de o futuro não chegar...

Não há nada tão angustiante quanto a semana que antecede os exames. Você se pega pensando neles no momento mais banal: amarrando os tênis, estendendo as roupas no varal, estacionando o carro, no meio da refeição. Daí suplica pra cair no sono e esquecer aquilo tudo e adivinha? Você sonha com os ditos cujos (perdi as contas de quantas vezes chorei e sorri em sonhos). Ao acordar, você tenta interpretá-los pra se convencer que, oras, vai dar tudo certo.

Para quem acredita em Deus, é como se experimentasse enormes diálogos com Ele, como as crianças costumam fazer com o Papai Noel quando chega dezembro; você explica que foi bonzinho e que merece continuar saudável. Que aprendeu a lição e que não precisa enfrentar a doença novamente.

Pra quem não acredita nEle, o desejo de não ser “sorteado” novamente é tomado toda vez que a tensão vem à tona. Você quer fazer parte da estatística de pessoas que usam transporte público, de pessoas que vão às pizzarias aos domingos, mas não de quem teve um câncer de novo.

De qualquer maneira, independente do credo, o desejo de viver é igual. A vontade de continuar fazendo planos e realizá-los também. A alegria de poder ser igual a todo mundo e ter como pro-ble-mão hora extra no trabalho, vizinho barulhento e trânsito às seis da tarde.

Enquanto o corpo é tomado de adrenalina (e aqui eu falo no mau sentido), você torce, reza, ora e implora para que as imagens mostrem exatamente o que foi visto da última vez. Nunca na vida você quis tanto rotina e mesmice. Enquanto as mãos suam e as pernas tremem, você anseia para que seus órgãos estejam preservados e sadios e, após o sorrisinho do médico, você já sabe...

Um laudo normal é como se fosse um troféu. E quando você ganha esse troféu, tudo o que mais quer é ostentá-lo. Volta a planejar a viagem para os Estados Unidos, a troca do carro que resolveu dar problema, o casamento (o batizado, a formatura...), o curso de italiano, a compra do apartamento que vinha sendo adiada e adivinha só? O itinerário do final de semana.

E daí você liga pra família e conta a notícia, ouvindo um sonoro “Eu já sabia” (com todo o mar de incertezas que rondaram a mente antes de tocar o telefone). Choros, gritinhos, sorrisos. Está aberta a temporada de esquisitices do momento “continuo em remissão, rumo à cura”.

(22 de fevereiro de 2012, 1 ano e 11 dias pós fim de tratamento do amor da minha vida!)

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